domingo, março 20, 2016

Comentários Eleison: Terceiro Bispo



Comentários Eleison - por Dom Williamson 
CDLIII (453) - (19 de março de 2016):




Dom Tomás, um monge com suficientes fé e caridade,
E agora um bispo, satisfazendo a Deus (e aos leitores) a vontade.


No dia da consagração, queira Deus, de Dom Tomás de Aquino como terceiro bispo para a "Resistência" católica de hoje, parece apropriado reproduzir o testemunho de um amigo próximo dele, o professor Carlos Nougué, que atualmente lidera uma Casa de Estudos junto ao Mosteiro da Santa Cruz de Dom Tomás. Este testemunho, que muitos de vocês podem não ter visto, está apenas levemente adaptado do original, que pode ser acessado no excelente site mexicano Non Possumus [N.T.: e no site em língua portuguesa “Estudos Tomistas”, do próprio autor].  Observem em particular a boa influência de Corção, a conexão próxima com Dom Lefebvre, a recusa de se aproximar da Roma neomodernista e dos métodos estalinistas de Dom Fellay.

Kyrie eleison!

Miguel Ferreira da Costa nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1954. Até a Faculdade de Advocacia, fez seus estudos no Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, onde tive a oportunidade de ser por um breve tempo seu colega de classe. Fez parte do movimento tradicionalista e antimodernista organizado em torno de Gustavo Corção e da revista Permanência; teve início então sua vida de “fiel guerreiro e veterano da guerra pós-conciliar pela Fé". Começou, como dito, a cursar Advocacia, mas abandonou-a para tornar-se monge beneditino, com o nome de Tomás de Aquino, no mosteiro francês do Barroux, que tinha então por superior a Dom Gérard; e foi ordenado sacerdote em 1980, em Êcone, por Dom Marcel Lefebvre. Pôde então privar da amizade, do exemplo, dos ensinamentos do fundador da FSSPX.

Em 1987 ele veio ao Brasil com um grupo de monges do Barroux para fundar o Mosteiro da Santa Cruz, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro/Brasil. Nesse ínterim, porém, Dom Gérard, contra a instância de Dom Lefebvre, marchou para um acordo com a Roma conciliar, contra o que se opôs também Dom Tomás de Aquino. A separação foi então inevitável. O Mosteiro da Santa Cruz, com total apoio e incentivo de Dom Lefebvre, tornou-se assim, em 1988, independente, ainda que amigo da FSSPX. Contudo, em razão de uma orientação por escrito emitida pelo Arcebispo, a FSSPX não teria jurisdição sobre ele, porque como Prior do Mosteiro era necessária a Dom Tomás a autonomia.

A carta foi providencial, porque as relações entre a FSSPX e o Mosteiro foram-se deteriorando, sobretudo com a aproximação daquela à Roma neomodernista. Quando Bento XVI publicou seu Motu proprio sobre o “rito extraordinário”, Dom Tomás de Aquino negou-se a cantar na Missa de domingo o Te Deum pedido por Dom Fellay para comemorar o documento papal, e, especialmente pela “suspensão das excomunhões” pelo mesmo papa, escreveu Dom Tomás a Dom Fellay uma carta em que dizia que não seguiria seus passos rumo a um acordo com a Roma conciliar. Um tempo depois, aparecem no Mosteiro (sou testemunha presencial disto) Dom de Galarreta e o Padre Bouchacourt para dizer a Dom Tomás que ele teria quinze dias para deixá-lo; se não o fizesse, o Mosteiro deixaria de receber ajuda e sacramentos (incluído o da ordem) da FSSPX.

Escrevi a Dom Fellay para queixar-me de tal injustiça, e ele respondeu-me que Dom Tomás tinha um problema mental, e que enquanto ele não deixasse o Mosteiro, não receberia apoio da Fraternidade. Respondi-lhe: “Devo ter eu também o mesmo problema mental, porque convivo há doze anos com Dom Tomás e nunca o percebi nele”. Tratava-se em verdade de algo similar ao stalinismo e seus hospitais psiquiátricos para opositores. Hesitou então Dom Tomás: se deixasse o Mosteiro, seria a ruína deste com respeito à Fé; se porém permanecesse, privá-lo-ia de toda a ajuda de que necessitava. Então Dom Williamson escreveu uma carta a Dom Tomás em que assegurava ao Mosteiro todos os sacramentos; poderia assim Dom Tomás permanecer nele.

Foi o suficiente para que todos aqui reagíssemos: foi o começo do que hoje se conhece por Resistência, e que teve por órgão primeiro a página web chamada SPES, hoje desativada por ter cumprido já o papel a que se destinava. O Mosteiro passou a ser então centro de acolhimento para os sacerdotes que, querendo deixar a FSSPX pela traição de seus superiores, hesitavam porém em sair justo por não ter onde viver fora dela. Foi o lugar da sagração de Dom Faure, e será agora o lugar da sagração do mesmo Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa, meu pai espiritual e o amigo mais entranhável que Deus me poderia haver dado.